quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Efêmero

Corre- corre... Corre - corre.... Corre - corre.... 
Beeep, beeep, chia a buzina do motociclista....


Corre- corre... Corre - corre.... Corre - corre.... 
As mãos ágeis no volante tentam alinhavar os carros, em meio aos ditos marronzinhos e em meio as teclas do celular que responde avidamente emails....


Beeep, beeep, chia a buzina do motociclista.... Um motorista abre o vidro e responde a "altura" no mesmo decibel.....


Páro.
Respiro.
Solto o celular..... (após vários emails e mensagens respondidas)
E penso: EFÊMERO....


Me vejo em uma situação caótica, de puro ativismo...e começo a reparar nos transeuntes, nos motoristas, no espaço ao meu redor. 
Respiro profundamente e aproveito o farol vermelho para fechar meus olhos um segundo somente de modo a ter uma percepção diferenciada.
Coloco o celular no  " vibra".
Desligo o radio.


Subitamente o corre-corre, passa correndo por mim do lado de fora do carro. As buzinas e motoristas "gritantes", formam um coro típico de hora do "rush".... mantra....


EFÊMERO....


Vem a minha mente a morte súbita de colega de trabalho neste domingo que se passou... Extremamente triste, repentino, como a chuva que começa pontilhar o vidro dianteiro do carro....
Seu nome estava na minha lista de retorno de ligações.... pois sempre era daqueles que ligava para saber como andava o mercado de São Paulo.


Na minha lista seu nome ficou. 
E a ligação.... essa nunca será feita para esse grande parceiro de projetos....


A chuva não se a quieta... Soma-se em coro com "os corre-corres" e " beep- beeps"....
Me vem a mente a fala de uma outra pessoa querida que a pouco me disse que andava sumido porque passou por "maus-bocados"... 
Fiquei arrasada ao saber.. Com a labuta do dia-a-dia pensei de pronto que o mesmo está guerreando contra os seus leões.... Mas não....Sofreu calado e calado ficou até melhorar, enquanto eu pensava que tudo estava bem, apesar dos leões.....


EFÊMERO....
Tudo passa rapidamente.
Palavras que queríamos dizer e não dissemos.... Abraços, sorrisos e gargalhadas que não demos....
Paladares desconhecidos....
Percepções não sentidas.... 


Mero acaso?! Isso é viver?!


A chuva pára.
O trânsito começa a fluir.
O ar condicionado do carro é sufocante... Abro a janela.... Monóxido de Carbono nas narinas, enquanto um vento adocicado do amendoim do ambulante me lembra a infância. 
Sorrio um meio sorriso triste e penso o quão efêmera é a vida em meio a palavras não ditas....

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