terça-feira, 2 de novembro de 2010

Da despedida ao Sole Mio

O lugar faz a pessoa ou a pessoa faz o lugar? ou será um mix de todas as coisas?
Há anos não entrava na casa dos meus avós. A última vez que o fiz para dar uma olhadinha, lá ainda funcionava um buffet...Entrei em meio a uma festa, aproveitando a deixa para ver a casa e pedir um orçamento, ja que em breve seria o aniversário de 1 ano da minha filha.
Confesso que o "entra e sai" e a mudança feita na arquitetura da "casa de vovó" me arrasou...
De triste, não consegui terminar de ver como tinha ficado o espaço. Minhas lembranças daquele casarão enorme, onde vovó Lola na sala de costura preparava suas prendas para Sta Rita e vovô Dante guardava seus vinhos e com cada cantinho estratégico da minha meninice já não existiam mais....
Não sei, se o fato de ser arquiteta influenciam o olhar saudosista de espaços e objetos que me remetem imediatamente a pessoas queridas.... Pode até ser.... Mas o fato é que fiquei arrasada por dias, após aquela visita, que covardemente, nunca mais quis entrar naquela casa.
Muitos objetos, móveis foram divididos entre a familia, e para mim, cada conta de vidro, é como o melhor dos cristais Bacarat. Muitos desses objetos estão ligados a histórias ou situações vividas por mim na casa de meus avós e ainda me trazem sorrisos saudosos quando os olho, me fazendo feliz.
É fato que sempre fui dada a histórias que meus avós e tios contavam, e mais ainda, as que eles deixavam de contar! Bastava um "repente" e súbita mudança de assunto, que minha curiosidade se aguçava...
Doces lembranças! Doces conversas! Doces doces! (como não me lembrar dos fios de ovos, que pra mim tinha formato de árvore de Natal, que vovô comprava para me ver empapuçar com os olhos gulosos de criança?! Pois é.... Na casa de vovô e vovó era sempre Natal! por causa dos tais fios de ovos!)
E a famosa bomboniere de cristal da sala de tv?!
Eu e meu irmão, enquanto os adultos conversavam, íamos sorrateiramente a sala de tv, e tentavamos de todas as maneiras abrir o dito cristal onde havia balas recheadas e bombons de fino trato... Desenvolvi uma tática de abri-lo inigualável ! mas o difícil era fechar!!! (já ai começava o "empurra-empurra" de quem iria fechar o poteou como diria vovó: "toca me ticcio, ticcio me toca!" e ai se fizesse um "plim-plim" no cristal! Parecia que vovó tinha olhos naquele pote! (talvez porque não nos contentávamos com um exemplar,  sempre comiamos todo o pote antes do jantar! rssss)
Doces são as lembranças na casa da Aclimação,  que do jardim de móveis branco e almofadas de um azul pálido e plácido, nos convidava a um lanche rápido, ou olhar o parque ou simplesmente sentar no balanco duplo com vovó que sempre tinha um sorriso estampado no rosto, mesmo que estivesse calada...
Me lembro de um dia que ela me chamou para o seu vestíbulo... (já que eu estava sentada na escada contemplando e admirando entre as grades da escada de mármore branco, a cena  das senhoras conversando do que a fala propriamente dita.)
Lembro-me que mamãe sorriu e desceu (deve ter ido atras do pestinha do meu irmao) e eu sentei no sofá do vestibulo...Vovó me contou me várias histórias sendo que algumas guardei como segredo, tal a entonação e sussuro de vovó. Somente ontem, após mais de 28 anos,  percebi ao conversar com papai, que o segredo não ficava onde vovó tinha me dito, mas em outro lugar... Não sei se foi a emoção de estar no vestibulo privado e em conversa onde estava somente eu e ela, ou se realmente minha mente sherlockiana já imaginou contos!
Ontem a casa de vovó com minha filha. A casa por fim será vendida e minhas primas estão organizando um "familia-vende-tudo", mas além disso, ansiava por poder ver a casa por completo e que minha filha sentisse o espaço onde cresci.
Desde que meus avós se foram, nem mesmo na rapida visita a 4 anos atrás, eu não havia subido as escadas e tampouco estado por lá com minhas primas.
A casa de antigamente, que hoje no pavimento superior permanece praticamente inalterada e que no térreo, é outra, me veio a mente como rajada de brisa suave e fresca
As imagens da minha infância, falas, risos, barulhos característicos,  principalmente os espaços com suas cores e luminosidade despontaram de maneira tão nitida que ficaria ali por horas descrevendo o lugar como era.... Cada detalhe.... 
Pude por fim, respirar, pela última ou quem sabe pela penultima vez, a casa dos meus avós como era, e desta vez, sem tristeza proveniente de alterações na estrutura, ou no reparar no piso em fudget de marmore cor de rosa em determinados lugares, ou no lavabo azul inexistente e que era cuidadosamente cuidado por vovó em seus detalhes (desde o batom, até o papel de toalette com flores miúdas e coloridas - aonde será que vovô com seus contatos os comprava?!)
Acredito que essas lembranças somente sopraram em minha mente como brisa suave, devido ao fato de minhas primas e minha mãe estarem presentes...
Portanto o que é um lugar sem as pessoas que amamos?!
Como arquiteta sei, que os lugares podem influenciar as pessoas e o fazem de fato!  Mas, o que são dos espaços se esses não são habitados por pessoas?! E igualmente, o que seriam dos espaços se esses não tiverem cores, cheiros, texturas e luminosidade? 
São definitivamente as pessoas que fazem o lugar! 
Nem mesmo as boas lembranças vieram em mente a 4 anos atras! Mas ontem, mesmo em meio a um espaço quase por completo transformado, inclusive no próprio uso, pude enfim sossegar meu coração, relembrar com alegria e "açucarar" a vida com doces momentos que ficarão pra sempre na minha mente, alma e espírito....
Ora scrivo la musica che mi ricorda i miei nonni, in particolare la mia nonna Lola che era piaciuta questa musica. A te, nonna, che te voglio bene sempre, vi invio questa canzone alle stelle....

Che bella cosa na jurnata 'e sole,
n'aria serena doppo na tempesta!
Pe' ll'aria fresca pare gia na festa...
Che bella cosa na jurnata 'e sole.
Ma n'atu sole
cchiu bello, oje ne'.
'o sole mio
sta 'nfronte a te!
Quanno fa notte e 'o sole se ne scenne,
me vene quase 'na malincunia;
sotto 'a fenesta toia restarria
quanno fa notte e 'o sole se ne scenne.
Ma n'atu sole
cchiu bello, oje ne'.
'o sole mio
sta 'nfronte a te!

6 comentários:

  1. Olá! Vim agradecer a linda visita e conhecer o seu blog. Confesso que fiquei admirada com tantos posts lindos e com tantos sentimentos. Quando eu recebo um recado como o seu fico imensamente gratificada e vejo como ainda existe pessoas sensíveis que sabem admirar um trabalho artesanal. Mais uma vez obrigada e já sou sua seguidora.
    Bjos

    Katia Missau

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  2. Muito simpático o seu blog, e falando sobre "lugar", escrevi sobre isso com um outro olhar
    aqui: http://longevidade-silvia.blogspot.com/2010/10/pensando-o-ambiente-do-idoso.html

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  3. Obrigada Katia pelo carinho em visitar o meu blog, Fiquei feliz!
    Os elogios ao seu trabalho são mais do que verdadeiros! E trabalhos como o seu, lindos e que inspiram, tem que ser divulgados e elogiados mesmo!
    Bjos

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  4. Olá Silvia,
    Obrigada pela visita e pelo comentário.
    Já entrei no seu blog e deixei um recadinho lá pra vc! Parabéns pelo seu texto!

    bjs

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  5. Conseguiu colocar o sininho hein!! Ficou super!!

    bj

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  6. tive que fuçar no seu blog! mas deu certo! :)))
    postei os cupcakes do curso!
    depois preciso dividir c vc o CMC!!!

    alias.... vc tem o telefone da NEte?

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